Surpreendentemente, como "embaixador de 'Power Rangers' no Brasil", eu nunca havia assistido ao primeiro episódio. Sim, eu também me surpreendi ao fazer essa constatação.
Não que a história do primeiro episódio seja surpreendente, já que ela está essencialmente resumida na abertura da série. E é aí que entra a parte curiosa: a abertura está presente logo no início do primeiro episódio. Ou seja, é um baita spoiler para quem assistiu à série sem saber do que se tratava.
Para quem não sabe - se é que alguém não sabe -, a história é a seguinte: dois astronautas (obviamente japoneses e dublados pateticamente em inglês) estão na Lua e encontram um objeto brilhante, saudado com a brilhante fala "isso parece uma lixeira espacial gigante".
Com o intelecto que obviamente só um astronauta japonês pode ter, os exploradores abrem a lixeira espacial, liberando um grupo de monstros saídos de um desfile de Carnaval. Baboo, Squatt, Finster, Goldar e ela, a única e inigualável Rita Repulsa, feiticeira intergaláctica.
Feliz por ter sido solta depois de milênios, Rita decide comemorar com a destruição do planeta mais próximo. O que seria a Terra, para quem faltou às aulas de Astronomia.
Corta para Angel Grove (ou Alameda dos Anjos, para quem acompanhou a versão dublada), onde vemos alguns jovens aleatórios fazendo atividades aleatórias, como uma ginasta se equilibrando em uma trave de equilíbrio, dois rapazes praticando caratê, uma outra jovem fazendo tai-chi chuan e um nerd disposto a aprender caratê com os amigos.
Exceto que, pasme, os jovens aleatórios não são aleatórios, mas são "five teenagers with attitude" recrutados por Zordon, o sábio, para defender a Terra da ameaça que é Rita Repulsa. Genial!
Jason, Zack, Billy, Kimberly e Trini, no entanto, não concordam com a genialidade da cabeça flutuante em um cilindro e recusam a chance de se tornarem Power Rangers (que audácia!). Mas acabam mudando de ideia quando são atacados por uma horda de bonecos de massa, e fazem sua primeira morfagem.
O mais interessante do piloto é que não há um monstro da semana para os Rangers enfrentarem. Logo de cara, eles já enfrentam Goldar, espécie de braço direito de Rita. Aí, a tradicional frase da feiticeira "Cetro mágico, faça meu monstro crescer" é substituída por uma curiosa "Cetro mágico, faça meu Goldar crescer". Estranho...
Com Goldar ou com monstro, o episódio já dá uma prévia do que a série toda viria a trazer: monstro aparece, Rangers lutam, monstro cresce, Rangers chamam robô gigante. Dessa vez, por ser o Goldar, o monstro não é derrotado ou destruído (dizer "morto" na série é tabu, prestem atenção), mas acaba fugindo de volta para a Lua antes que seja tarde demais. Rita, claro, tem a primeira de suas muitas cabeças.
De volta à base, os jovens aprendem as três regras fundamentais de um Ranger: não usar os poderes para ganho pessoal, não entrar em batalhas a não ser que sejam forçados, e manter suas identidades em segredo. Jason, Zack, Billy e Trini topam, mas Kimberly diz que não topa, porque o capacete estraga o seu penteado... Todos parecem desapontados, mas... Pegadinha do Mallandro! Ela topa! Hooray!
Entremeando toda essa confusão, temos ainda a apresentação de Bulk e Skull, o alívio cômico da série - e, surpreendentemente, dois dos personagens mais duradouros. Eles são desagradáveis, porém o piloto revela que são apenas incompreendidos no amor: tudo que eles desejam é um encontro duplo com Trini e Kimberly. Ah, o romance...
Em uma análise mais profunda, é engraçado assistir a uma série infantil com olhos mais, adultos. A produção aposta em técnicas questionáveis como sacudir insanamente a câmera para simular um terremoto (mesmo que nada mais trema no cenário), e cortes muito malfeitos para simular teletransporte. Também é muito bom ver os zíperes nas roupas dos monstros (em alguns casos, como nos bonecos de massa, os produtores não pareciam nem tentar esconder).
Para quem sabe que o piloto exibido é, na realidade, uma reedição de um outro piloto, que originalmente tinha uma Ranger amarela negra, é divertido ficar procurando as cenas originais que acabaram entrando na exibição (Jason vestir uma camiseta branca é sempre uma boa dica!)
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